01 dezembro, 2009

A Idade da Inocência

“A Idade da Inocência”, de Edith Wharton

Este romance, que ganhou o prémio Pulitzer em 1920, desenha com fina acidez os códigos da elite nova-iorquina no final do século XIX. É uma sociedade elegante, exclusiva, incomoda pelo regresso da condessa Olenska, que se separou do marido na Europa e traz consigo um perturbante sopro de independência.

Por Luís Miguel Viana

Este romance, que ganhou o prémio Pulitzer em 1920, desenha com fina acidez os códigos da elite nova-iorquina no final do século XIX. É uma sociedade elegante, exclusiva, incomoda pelo regresso da condessa Olenska, que se separou do marido na Europa e traz consigo um perturbante sopro de independência.

Quando em 1993 Martin Scorsese apresentou a sua adaptação ao cinema do romance de Edith Wharton, foi muito claro sobre o conteúdo do filme – “É sobre rituais tribais”, disse. E não enganou: “A Idade da Inocência” mergulha-nos numa sociedade organizada, civilizada, onde se protegem mais os bons costumes do que a saúde, onde se observam “as regras” e a exibição das emoções é considerada imprópria. É também a história de um amor que não se consuma, da decisão nunca tomada de sair daquele meio, da inércia que prende as pessoas aos padrões em que foram educadas.

Edith Wharton nasceu em Janeiro de 1862, filha de uma família de Nova Iorque com prestígio e “dinheiro antigo”. Em 1885, aos 23 anos, casou com Edward Wharton, um aristocrata de Boston vinte anos mais velho que aceitou passar temporadas na vida agitada e cosmopolita de Paris no virar do século. Edith compra um automóvel e anda nele a “grandes velocidades” com um grupo de amigos que incluia o escritor Henry James e, mais tarde, Fitzgerald, Hemingway, Roosevelt ou Jean Cocteau. São anos frenéticos em que atravessa 64 vezes o Atlântico.

Em 1905 publicou pela primeira vez um romance, “A Casa da Alegria” (ed. Presença), a história da degradação de uma mulher a quem a sociedade não deixa sair do beco em que o seu casamento se transformara. A história tinha alguma coisa a ver com ela, como se percebeu mais tarde, uma vez que o seu casamento ia de mal a pior. O marido parece que era uma nulidade em tudo, sexo incluído. Em Edith 1909 arranja um amante; em 1911 decide estabelecer-se definitivamente em França; em 1913 divorcia-se.

Na I Guerra Mundial utiliza os seus conhecimentos para obter permissão de se deslocar às linhas da frente num “side-car” e, de regresso a Paris, trabalha na Cruz Vermelha na assistência a refugiados. Foi depois condecorada com a “Legion d’Honneur” pelo estado francês. Após a Guerra Edith Wharton só viaja uma única vez aos Estados Unidos. Morre na França, em 1937.

A “Idade da Inocência”, o seu romance mais conhecido, transporta-nos a uma sociedade – Nova Iorque, no final do século XIX – instalada na prosperidade e sofisticação da alta burguesia, que defende o seu estatuto e códigos mundanos. A chegada de Ellen Olenska, que se separara do marido e regressa da Europa, perturba a sensibilidade educada de Newland Archer, o noivo da bela May Welland, “esse produto aterrador do sistema social a que ele pertencia e no qual acreditava”. É um romance cheio de distância e de sarcasmos implícitos sobre a hipocrisia, a perversão social, a impotência perante os padrões de conduta.


Fonte:
http://static.publico.clix.pt/docs/cmf2/ficheiros/16EdithWharton/nlt.htm

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